Entende-se na literatura científica que os pais de filhos portadores do TEA enfrentam dificuldades maiores quando comparados a uma parentagem de crianças típicas. Mães de filhos autistas trabalham menos fora de casa, trabalham menos horas na semana e ganham cerca de 56% menos do que mães de crianças sem autismo.
Também há dados robustos sobre presença de transtornos mentais. Em uma metanálise australiana de 2020, identificou-se a presença de sintomas ansiosos em 31% e de sintomas depressivos em 33% nas amostras de pais de filhos no espectro autista. Tais porcentagens são muito acima da encontrada na população geral (4.4% para quadros depressivos e 3.6% para quadros ansiosos, segundo dados da OMS).
Nesse contexto, o estresse é um ponto extremamente relevante. O estresse impacta diretamente a habilidade em lidar com os comportamentos difíceis, no funcionamento familiar e na relação conjugal. Os pais necessitam e se beneficiam de orientação profissional e informação de qualidade sobre o TEA e estratégias de como lidar com os comportamentos problema.
O cortisol, hormônio diretamente relacionado com estresse e regulação imunológica, apresentou liberação alterada em pais de crianças no TEA, liberação alterada como em situações de estresse crônico, burnout e fibromialgia. Por outro lado, ter acesso a suporte social (possibilidade de discutir problemas, disponibilidade de interagir com outras pessoas, acesso à informação) esteve associado a menor estresse psicológico, menores níveis de cortisol matutino e menores queixas de sintomas físicos nos pais de crianças autistas.
Cuidar, educar e criar pessoas dentro do Transtorno do Espectro Autista é uma tarefa desafiadora, intrigante e humana. Frequentemente ouço relatos de pais e profissionais sobre o aprendizado e gratificação em acompanhar as conquistas e o desenvolvimento das crianças. Porém, os dados científicos alertam para um cuidado que devemos ter em relação aos cuidadores. Os níveis de estresse e riscos de desenvolver transtornos mentais é substancialmente elevado nessa população.
Tratamentos que envolvem psicoeducação familiar, estratégias de lidar com comportamentos difíceis e grupos de pais são fortemente recomendados. Recomendo que os pais de crianças no TEA busquem clínica especializadas e que forneçam esse suporte parental. Também recomendo a busca de instituição reconhecidas no assunto (segue algumas opções ao final do texto). Em alguns casos, pode ser benéfico psicoterapia individual ou mesmo avaliação psiquiátrica.