Infelizmente é comum a busca por causas simples e soluções rápidas para as dificuldades que enfrentamos. Frases do tipo “Esse menino é muito agitado, precisa tomar remédio” ou então “Terminei meu namoro, acho que estou com depressão e preciso de tratamento urgente” são comuns no dia a dia. Tal postura simplista trata nossos problemas de modo superficial e dificulta nosso entendimento dos fatores relevantes ao nosso bem-estar.
É importante reforçar que todos nós passamos por momentos difíceis, ficamos ansiosos em determinadas circunstâncias, sentimo-nos tristes com perdas e decepções ou podemos ficar desmotivados com o trabalho ou o estudo. Os momentos difíceis são importantes fontes de aprendizado, nos retiram da acomodação, nos forçam a buscar melhores estratégias e novas habilidades para enfrentarmos os problemas.
Se todos os momentos difíceis ou todas as frustrações forem vistos de modo superficial e se insistirmos em buscar soluções rápidas e fáceis para nossos problemas, podemos recair no uso abusivo de medicações, manter tratamentos onerosos e sem resultados e não nos fazer enfrentar os principais fatores que estão nos trazendo dificuldades. Caímos no problema do excesso em Psiquiatria, excesso de medicações, excesso de afastamentos da escola ou do trabalho, excesso de acomodação.
Porém a Psiquiatria também sofre da falta de procura. Acredito que essa falta de acesso à Psiquiatria e à saúde mental é ainda mais comum do que o excesso. Tratar como “apenas uma fase difícil” a desmotivação crônica, o abuso de substâncias, a tristeza que não tem fim ou o atraso escolar dificulta o acolhimento daqueles em sofrimento, afasta as pessoas do tratamento adequado e leva a prejuízos. Destaco a palavra prejuízo, pois entendo que quando esse está presente, estamos passando da fronteira do compreensível e aceitável.
Acredito que a rejeição ao tratamento em saúde mental, especialmente a Psiquiatria, é consequente ao estigma sobre os transtornos mentais e o medo de fazer uso de medicação (caso seja necessário). A ideia de que “Psiquiatria é para loucos” está totalmente errada e afasta muitas pessoas de receber acolhimento e tratamento adequados. E, felizmente, as medicações mais modernas tem menos efeitos colaterais, não levam a dependência e podem ser um aliado importante para a melhora do sofrimento vivido. Além disso, em alguns casos a medicação pode não fazer parte do tratamento em saúde mental.
Apesar de existir um excesso de diagnósticos em psiquiatria, há ainda pouca busca por essa especialidade médica. A presença de prejuízos na vida da pessoa, como prejuízos no trabalho, na escola ou na vida social é um importante sinal para busca de atendimento. Uma avaliação psiquiátrica de forma criteriosa, acolhedora e técnica certamente distinguirá o normal do patológico, auxiliando as pessoas a buscarem melhores maneiras de enfrentar as dificuldades.